Desejos

Que toda dor cesse
Que o desamparo acabe
Que o respeito persista
Que a esperança viva


Que o coração bata
Que a alma liberte
Que os olhos digam mais
Que a boca fale menos


Que os surtos se apresentem
Que a experiência seja acumulada
Que o sonho se realize
Que o querer renasça

Que a ausência cause
Que o calor preencha
Que o outro ampare
Que o amor transforme


Que os corpos se unam
Que a vida emocione
Que a lágrima corra
Que o mar me invada

Descanso

Desnudar-se

Mergulhar na zona do desconhecido

Não enxergar

Arriscar-se

Sem saber dias, horas

Sem saber futuro

Deixar ser

Seguir com as ondas

Ignorar o tempo

Sentir

Sem inibir

Permitir-se

Voar

Libertar-se

Correr pelo mundo

Entregar

Que presente seria

Não pensar.

Sacanagem

Me joga

Me faz de gato e sapato

Me despe
Me faz trincar os dentes

Me lambe
Penetra no âmago do meu ser

Me consome
Me rasga inteira

Me morde
Me puxa pelos cabelos

Me guia
Me pega pela cintura

Me abraça
Me prende em teus braços

Me come
Me fala sacanagem

Me aperta
Me deixa ser toda sua

Me encaixa
Me faz tua vagabunda!

Almíscar

Me sinto possuída

Possuída por um cheiro doce

Com gosto amargo ao mesmo tempo

Almíscar talvez

Me reviro pela cama

Abro e fecho os olhos continuamente

Procurando alguma coisa

Quem nem sei bem o que

Busco na memória

Volto ao passado

Nada

Um absoluto vazio

Acendo a luz

Tento achar o motivo

Pra esse incômodo que me habita

Ausência

Ausência é um estar em mim.

Pedido

Quero que morra em mim

Essa vontade descontrolada de te ver,

De olhar seus olhos negros e doces

Que acabe essa angústia de não te ter

E essa ausência assimilada

Como já cessaram tantas outras ausências

Que me tiravam o chão e me impediam de respirar

Em todas as noites solitárias

Que passe essa agonia de não ter seu abraço

Seu corpo me envolvendo

E que eu me permita morrer um pouco

Pra que doa a parte em mim que é sua

E que com a dor ela desapareça

Mas que por favor,

Eu não fique vazia ou amarga quando isso acontecer.

Canção de Descanso

Ah! Você vem assim de repente

Sem ser convidado

Me pega de jeito

Um peso no peito

Causa taquicardia

Me prende

Me inibe

Me deixa sem saída

Ah! Você que vem assim sorridente

Acha que fico contente

Com esse seu jeito?
Me põe de pernas pro ar

Causa sonhos e devaneios

Me acaba

Me ganha

Me enrola

Ah! Sr. Amor,

Por favor não venha me habitar

Pois com você no peito

Não tenho como descansar...

Amém

Ah!Seus olhos que flecham

Que vêem

Que invadem

O que eu achava que jamais seria invadido

Suas mãos indignas

Que tocam o intocável

O sagrado

Ah! Se não há mais dúvida

Que fostes o escolhido

Para atear fogo

Nesse corpo sem pecado

E essa alma elevar ao céu

E junto com a alma

Curar-se, purificar-se

De todo mal que há nos mundos

Amém

Espera

Que sensação é essa

Que causa desconforto

Tristeza
Angústia

Aflição

Tédio

Sem mais nem menos

De repente.

Depressa

E sempre a retardar

E ajeitar

A vida

As pessoas

Curando-as dos males

Viver tem sido uma longa espera
Pro tempo passar.

Pela última vez

Eu só queria recostar-me

Em teu corpo

Só mais uma vez.

Sentir o calor,

De alguém ao meu lado

Pela última vez.

Beijar o desconhecido,

Brigar com o esperado,

Me tornar indecifrável,

Acabar com o palpável.

Eu só queria deitar-me

Em tuas coxas

Sentir teu peito outra vez,

Ouvir batidas desconexas,

De um coração novo

Pela última vez.

Abraçar a escuridão,

Sonhar com a esperança,

Me tornar parte da dança,

E vencer o grande medo.