domingo, 1 de julho de 2007

Vida x Morte


Eu sei que sou diferente pelas minhas opiniões. Mas hoje falarei de um assunto mais sério. E vocês podem concordar, discordar, me odiar, ou simplesmente pensar a respeito.

Eu não sei o que acontece com as pessoas que elas dão tanto valor à vida e à morte.
Isso não é um tanto contraditório? Afinal, se você é pró-vida, deveria ser anti-morte, não?
Enfim, fico pensando numa coisa: nós temos tanto medo da morte, tanto quanto tínhamos medo do escuro quando crianças.Tudo bem, o desconhecido amedronta, mas também não gera uma certa curiosidade?

Nós odiamos a “Morte” porque muitas vezes a achamos injusta em relação às pessoas que amamos, e isso é meio egocêntrico. Mas mais do que isso, isso chega a ser egoísta às vezes, porque estamos pensando no nosso bem estar e não do da própria pessoa que muitas vezes está muito doente e/ou sofrendo. Não queremos perder as pessoas que gostamos nunca, e conseqüentemente temos um medo profundo de morrer também, em função disso.Mesmo a gente sabendo desde crianças (afinal estudos indicam que uma criança se dá conta da sua “vida” quase ao mesmo tempo em que se dá da “morte”.) que estamos bem longe de ser uma espécie imortal, estilo “Highlander”.

Somos tão avessos à morte que muitas vezes ao olharmos um morto, (mesmo que fictício), na TV, reviramos os olhos, ou ficamos com o estômago embrulhado, isso na melhor das hipóteses. Mas confesso que tenho visto uma ligeira mudança nisso, já que a “morte” tem sido massificada, banalizada, devido ao constante crescimento da violência, da imprensa sensacionalista e da indústria do espetáculo que ganha rios de dinheiro em cima da “desgraça” alheia.

Mas o que é a “morte” se não uma coisa banal?Ela é tão banal, tão comum, que chega a ser sem-graça. Ela acontece pra todos nós e a todos nós, cedo ou tarde.Que coisa mais chata, não?

Assim como a “vida”, outra coisa supervalorizada, afinal, é tão bom assim estar vivendo? Tudo bem eu não sou depressiva, a gente se “fode” nessa vida, mas se diverte, entretanto você pediu pra nascer, escolheu estar aqui nesse lugar que está, nessa família, nesse país? Você pediu pra estar vivendo? Acho que não, né? Logo não seria tão mais legal, poder escolher a hora de vir (e se você quer vir) e a hora de ir embora? Como numa festa que já deu o que tinha que dar, você vai embora da “vida”. Não seria bem mais fácil?

A gente tende a repelir a “morte”. A primeira coisa que fazemos quando alguém morre é afasta-lo do convívio, crema-lo ou enterra-lo. Longe, onde os olhos não precisem ver, pra que você com o tempo possa esquecer que a “morte” tão temida existe.

Essa constante busca pela vida eterna, pela juventude eterna, pela beleza eterna, cada vez mais vivendo mais e melhor (quem pode pagar, é claro), tem um preço. Por mais que você aos 75 anos de idade pareça ter 55, isso não faz com que você tenha sequer realmente um ano a menos.Ou seja, não faz a mínima diferença interna. E que mesmo assim, com 90, 75, 55 ou até 30, a morte chega igualmente para absolutamente todos.
Fomos criados pra ver a “vida” como o “bem maior”, e qualquer coisa que possa ameaçar essa “vida” é o inimigo e imediatamente tentamos repelir. Mas o que nos esquecemos é que nem todos os povos da Terra pensam assim. Essa visão é extremamente cultural e de acordo com os padrões da sociedade em que vivemos. Algumas tribos vêem a “vida Terrena” como uma simples passagem, como tantas outras que vão ter. Outras vêem essa “vida” como se estivessem numa espécie de purgatório ou até como um castigo para se depois chegar ao paraíso, à felicidade plena, ao Nirvana. Como essas existem muitas outras crenças sobre vida e morte, e o problema constante dessa questão é a religião. Afinal a gente tende a achar sempre que a nossa religião é melhor que a do outro.

Eu nunca entendi por que tantos cristãos tem medo da morte, se após dela eles iriam para o tal “Reino do Céus/Paraíso”. Será que são todos pecadores? Longe de mim criticar a religião alheia e muito menos apoiar atos terroristas, mas convenhamos, se um palestino se mata em nome de Alá, em nome de seu povo sem problemas porque tem a absoluta certeza que vai ser recompensado no pós-morte, não faz muito mais sentido?

Mas aí entra uma outra questão que ninguém gosta de discutir, que é o suicídio. Eu não sei por que tanto tabu em cima desse assunto. Por que é tão difícil entender que de repente a pessoa se encheu o saco de viver nesse mundo? As guerras produzem "heróis", os carrascos são remunerados, mas o suicídio é visto de uma forma preconceituosa. Criticamos essa atitude como se vivemos num mundo onde tudo é lindo, tudo são flores, sem fome, miséria, violência, guerras, preconceitos, o próprio paraíso, quando sabemos que é tudo isso ao contrário. Depois ninguém entende o porquê das pessoas entrarem em depressão. É só ler os jornais todos os dias, ouvir as histórias das pessoas, de seus amigos e vizinhos, ver o que acontece em países como a África, que você com certeza já se desespera.

É claro, um suicídio assusta, afinal a sociedade não quer que você tenha controle de si próprio. Ela desde que você nasceu dita as regras do jogo, controla o que você come, o que você bebe, qual língua você fala e como você a fala, o que você veste, como você se comporta em diferentes situações, por quem você se atrai, quem você deve amar, e quem não deve gostar, controla a sua vida e até a sua morte. A gente pensa que sozinhos fazemos essas escolhas, que existe o tal do “livre arbítrio”, mas inocentes somos nós que achamos isso. Na nossa ingenuidade acabamos por ir inconscientemente pela maioria. Portanto o fato de repente de alguém se revoltar contra esse sistema e se matar (escolhendo assim a hora e a forma de morrer), assusta. Eu entendo.

É engraçado que posso estar parecendo extremamente derrotista, pessimista, depressiva até, mas pra mim sinceramente essas questões são contraditórias. Eu amo a vida, mas tenho noção que tudo isso que vivemos, é porque somo vítimas de uma sociedade e principalmente de uma cultura que prega tal coisa. Somos tão a favor da vida e cada vez mais descobrimos mais métodos de se prolongar a vida com uma “pseudo-qualidade”, no entanto estamos nos matando todos os dias. O constante crescimento da violência nas grandes cidades; guerras de interesses puramente econômicos e sem ideologias; a constante agressão ao planeta que causamos através da poluição, do desmatamento entre outros, esquecendo que esse planeta é a nossa casa.

A preocupação somente com o “aqui e agora” e não com o futuro de nossos filhos e netos (mais aparente nos países mais desenvolvidos e maiores poluidores), não são sintomas de seres humanos pró-vida e sim de pró-morte. Até porque, destruindo o planeta estamos destruindo a nós mesmos. Não é no mínimo contraditório?
Nos acostumamos a criar um fantasma da “morte” como se ela fosse o verdadeiro inimigo, esquecendo que a “vida” é um ciclo e a “morte” faz parte desse ciclo. (Quer coisa mais natural que a morte?). Mas o que ainda não nos demos conta é que o nosso verdadeiro inimigo, o tal inimigo do Homem, é o próprio Homem.

Um comentário:

Sam Lim disse...

É muito interessante que uma pessoa de tal idade pense de forma interrogativa, sobre elementos da convivência humana tão vitais e ao mesmo tempo incompreenciveis a ciência e aos estudiosos. Penso que entre a vida e a morte não há conflitos e sim uma enorme parceria.
Sobre a frase:
Mas o que é a “morte” se não uma coisa banal?Ela é tão banal, tão comum, que chega a ser sem-graça. Ela acontece pra todos nós e a todos nós, cedo ou tarde.Que coisa mais chata, não?
Considero a morte como o mais soberano dos elementos da faze humana, a morte é eminente, imprevisível, infalível, certa de tempo mas não de hora, concreta, e eficaz.
Não vejo ela como banal mas sim como essencial, assim como o fogo consome e transforma, à morte imita-o consumindo e transformando não só a matéria corporal como o sentimento e eternizando o mesmo.
Tudo se inicia em vida e nada se renova sem a morte.
Parabéns pelo texto.